Sexta-Feira desloquei-me ao Grande Auditório do Centro Cultural de Belém para assistir a um concerto de Jorge Palma.
Em primeiro lugar, considero pouco adequado o facto de um concerto ser marcado para as 21 horas. Talvez em Inglaterra seja a hora habitual mas, em Portugal, 21:30 ou mesmo 22 horas seria mais indicado. Ainda para mais tendo em conta que se tratava de uma Sexta-Feira e, portanto, a maioria dos espectadores não teria que se levantar cedo no dia seguinte.
Passando agora à minha opinião sobre o concerto, e lamento chocar alguns fãs mais indefectíveis, penso que se tratou de um espectáculo deplorável. Se Jorge Palma deixou de beber, a verdade é que não se nota nada. Até preferia quando bebia!
Lembro-me, por exemplo, de um maravilhoso concerto, a solo, no Teatro Camões (Parque das Nações), há coisa de 5 ou 6 anos atrás. Nessa altura, Palma foi um verdadeiro profissional e não dispensava o álcool. Não deixou de contar as suas piadas espontâneas no intervalo das músicas, mas interpretou-as com mestria, sem interrupções e sem exageros despropositados. Talvez esse concerto fosse muito mais importante para Palma do que os que faz actualmente, pois preparava o regresso ao contacto sistemático com o público (embora nunca tenha desaparecido totalmente) e, por essa razão, esse concerto tenha sido muito bem preparado e encarado de forma profissional.
Contudo, agora parece que Jorge Palma se acomodou. O seu público adora-o. Não interessa que faça coisas em palco que não se tolerariam a um amador... De facto, nos velhos tempos em que o público ia assistir a um espectáculo munido de tomates podres, fruta madura ou ovos de galinha do campo, certamente que não se limitariam a aplaudir o artista após cada música...
Quanto a mim, só dois factores podem explicar a forma como o público recebeu o espectáculo: ou respeito excessivo ou adoração sem sentido crítico. Eu incluo-me no primeiro grupo. Aplaudi parcamente após cada música apenas por uma questão de respeito.
O início do concerto foi especialmente lamentável, com o artista a esquecer-se das letras de várias canções (segundo o próprio informou, tinha-se esquecido do dossier com as letras no camarim). Então, enquanto um dos "groupies" não voltou do camarim com as letras, o público teve que aturar faltas de profissionalismo que, repito, nem a um amador se tolerariam. Se Jorge Palma fosse um verdadeiro profissional, só deveria retomar o concerto quando tivesse as letras consigo.
Infelizmente, a magnífica voz de Jorge Palma também não estava nos seus melhores dias. Talvez devido ao concerto da véspera, pareceu-me um pouco rouco.
O espectáculo foi parcialmente salvo graças à banda que o apoiou em vários temas e, também, devido ao seu filho Vicente que participou em alguns temas já no final do concerto. De facto, quando Palma estava acompanhado, o seu desempenho melhorava bastante, interpretando as músicas de forma mais competente.
Uma última nota, infelizmente também negativa, para uma senhora do público que a certa altura, aproveitando uma pausa, disse «Jorge! Dispensa a bateria. Está a estragar tudo.» Para além de não concordar nada, como já disse no parágrafo anterior, penso que foi uma enorme falta de respeito para com um músico jovem e ainda em início de carreira. Ainda por cima, era do conhecimento geral que Jorge Palma trazia outros músicos consigo!
Em síntese, tão cedo não conto assistir a outro concerto de Jorge Palma. Prefiro a excelência dos discos. Lamento que uma sala com o prestígio do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém tenha assistido a tanta mediocridade e palhaçada.
Osvaldo Manso