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sexta-feira, novembro 26, 2004


Concertos de Apresentação de 'Norte'


Solo:

:: FNAC Colombo, dia 27 de Novembro, às 18:30,
:: FNAC Chiado, dia 30 de Novembro, às 21:30,
:: FNAC Norte Shopping, dia 4 de Dezembro, às 18:30.

Com banda:

:: Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra, dia 25 de Fevereiro 2005



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Jorge Palma de Sul a Norte no 'Público'


Foram vinte dias de estúdio, sem exasperações nem sinais de ansiedade. "Um mês de Agosto extremamente sossegado, muito mais do que se eu tivesse ido para uma praia, provavelmente," diz Jorge Palma, que acaba de lançar "Norte", o primeiro disco que faz sem a pressão do álcool, que andava a atormentar-lhe a vida e a carreira. Gravado no norte do país, com músicos do norte e à procura de um novo norte (razões para reforçar o título), o disco conta com um lote de músicos considerável: Mário Barreiros (produtor), Mário Delgado, Carlos Bica, Flak, Frank Möbus, Miguel Ferreira, Marco Nunes, André Hollanda, Mário Santos, Mário Brito, José Luís Rêgo, Ricardo Dias, Rui Alves, os Dixie Gang e uma secção de (12) cordas dirigida por António Augusto de Aguiar.

Neste disco, em vez do Palma's Gang temos o Norte's Gang?

Até o Mário Delgado, fiquei a saber que é de Águeda! E o Möbus [alemão] é mais do norte ainda... Agora a sério: comecei a chamar "Norte" ao disco por razões óbvias, queria gravar num estúdio do norte, com o Mário Barreiros. Depois o título foi ficando. Comecei a brincar com o facto de o Elvis Costello ter lançado "North" (disco de que gosto bastante) e às tantas já não fazia sentido chamar-lhe outra coisa...

E este piano azul da capa, no meio de uma estrada, apareceu como?

Eu estava em Nova Iorque, em viagem, e o Tó Trips ia-me mandando esboços. As fotos da Isabel [Pinto] eram porreiras, as ideias do Tó também, mas havia qualquer coisa que não jogava. Quando vi essa, telefonei a dizer: não mexam! Soube depois que é uma miniatura. Entretanto filmámos quatro canções com a banda e, para as filmagens, a dona Isabel vestiu de azul um piano a sério, ficou igualzinho a esse.

À semelhança dos discos do Fausto e do José Mário Branco, "Norte" surge como uma reacção aos tempos em que vivemos, aos comportamentos, às guerras...

Há imagens que eu não teria ido buscar se não vivêssemos esses tempos. Falo de tréguas, de legionários... estamos a viver uma época muito estranha.

Que nos pode conduzir a quê?

Não sei. Nem tenho soluções. Sei apenas que a sociedade se encaminha para um ponto de ruptura. Populações a viver em condições sub-humanas, um pânico em relação ao desemprego... Então em termos ecológicos nem se fala, não sei como vai ser.

A primeira canção, "O passeio dos prodígios", reflecte essas preocupações. Mas foi a última a ser escrita e no tempo recorde de três horas. É quase um hino, só voz e piano...

Essa foi feita de propósito para abrir o disco. Como abro sempre os concertos sozinho, ao piano ou à guitarra, decidi também abrir o disco sozinho, com essa balada.

A música, nos primeiros acordes, tem algo de "Imagine" mas depois, numa breve passagem, parece citar "The Boxer", dos Simon & Garfunkel...

Exactamente. Essa presença senti-a logo. Depois pensei: ou dou a volta a isto ou deixo-a assim. Deixei. Há um poema de que gosto muito, o "Prufrock", do T. S. Elliot, que diz "Let us go then, you and I, as the evening is spread out against the sky (...) through certain half-deserted streets". Peguei por aí: "Vamos lá contar as armas/ tu e eu de braço dado/ nesta estrada meio deserta..." Depois continuei e saiu assim.

O "Optimista céptico" é a tal canção sobre a guerra que lhe andavam a pedir?

A ideia foi essa. Já percebi que houve quem ficasse desiludido, mas acho que tem bastante força e vai ser uma canção porreira para tocar ao vivo. Aliás, este é um disco que eu gostava que as pessoas conhecessem, ouvissem, mas depois vai ter vida própria: quem gosta gosta, quem não gosta não gosta. O que sei é que foi feito comigo sóbrio e isso é uma inovação, nesse aspecto é revolucionário [risos]. Se tiver bebido um copo de vinho foi num jantar ou assim. Agora bebo pouquíssimo. Whisky e cerveja nada. Vinho, só uma vez por outra. E isso é bom, porque já me detestei...

Começou a ser complicada, essa dependência, até na própria criação?

Há um período em que é estimulante, mas eu já não estava a apanhar esse estímulo, essa euforia criativa. Só me turvava as ideias, a autoconfiança, e aumentava o desânimo.

Em "Escuridão" fala na necessidade de encontrar um equilíbrio: duas pessoas podem ter razão, cada qual na sua vez ou até ao mesmo tempo. Desde que se ouçam.

É uma sátira e a ideia é mesmo essa. Começou por ser só música, inspirada numa coisa do Sting, "Whenever I say your name" [dueto com Mary J. Blige]. Uma progressão de baixo com uma pulsação de palavras, de sons. A letra é autobiográfica, mas não totalmente porque toda a gente tem episódios desses. Cada um quer ser dono da razão. Mas tem que ser à vez, tem que se ouvir o outro e saber pedir desculpa, às vezes. No fundo, levado ao exagero, é baseado na relação que duas pessoas acabam por ter quando estão demasiado tempo próximas. Com quezílias desnecessárias.

"Os demitidos" é quase uma declaração de princípios. Tem um alvo certo?

Certo tipo de mentalidades. O "obviamente demitido" vem da célebre frase do Humberto Delgado, isso é óbvio. Não é dedicado a ninguém específico, mas a um tipo de pessoa cinzenta, encostada ao seu tacho, com medo de ter ideias inovadoras. E que, por ter poucas ambições (ambições saudáveis), gosta que as coisas fiquem como estão enquanto der jeito. Acaba por ser uma maneira de estar retrógrada, que impede que as coisas se renovem. É a prepotência, a maledicência...

Os arranjos de cordas quiseram dar uma densidade dramática a certas canções?

Há três canções com cordas. Uma delas é o poema do Al Berto, "Acordar tarde". Tinha pensado, nas partes mais suaves em que só estava o clarinete, meter trompa, fagote, um naipe de madeiras. Mas quando ouvi os dois clarinetes, preferi deixá-los sozinhos com o piano. Quando entram as cordas, dão-lhe uma intensidade ofegante. Em relação às outras canções, o Mário Barreiros disse-me para ouvir um disco do Beck. De facto inspirou-me. Normalmente quando trabalho com cordas ou instrumentos de orquestra, de sopro, gosto de fazer uma escrita horizontal, cada um a fazer a sua melodia, tipo fugato, ou então em escrita vertical mas aberta. Aqui usei o uníssono, que é o que o Beck faz, o que dá uma intensidade, um dramatismo, todos a tocar a mesma nota...

Precisamente o contrário do que sucede com os Dixie Gang, não?

Aí é o oposto. Não escrevi para eles, eles ouviram e puseram-se a desbundar.

"Tama-ra" foi das primeiras canções a surgir ou foi mesmo a primeira?

Como música, sim. É dedicada à minha namorada e é a canção mais brincalhona: bailarico, praia... foi tendo várias letras. Comecei a ouvir essa melodia insistentemente, de cada vez que estava na praia. Lembrava-me também do "Dolphin's dance", do Herbie Hancock, dos anos 70, desse ambiente, depois comecei a lembrar-me das coisas dos anos 20, do Jack Nicholson no "Shining", naquele final... Entretanto fui brincando, todos os dias tinha palavras diferentes. Até que ficou essa.

"Há quanto tempo" é uma deriva de uma música feita para um disco de poemas relacionado com os 30 anos do 25 de Abril. A letra seguiu depois outras pistas?

A referência fundamental para a música, que depois tive que verificar que não era plágio, é o Nino Rotta no "Padrinho" do Coppola. No disco de poemas vou abordando o tema com vários ritmos, mas a introdução é quase solene, piano aberto, graves, como se fosse ali a criação do mundo. A letra fala de um amor impossível, como o do cavaleiro da Idade Média sempre apaixonado por aquele ser perfeito que nunca se encontra...

Isso liga bem com o "D. Quixote foi-se embora" que vem a seguir. É propositado?

Não, foi um alinhamento provisório que ficou. Baseei-me também na sequência de tonalidades. Nessa fase há três canções em dó, só que é dó maior, menor, ritmos diferentes. O disco começa em lá, passa por ré, mi menor, demora-se em dó vai para sol, em relação à sequência de letras, de ambientes, começou a fazer sentido ficar assim.

O "D. Quixote" foi escrito originalmente para uma peça da Incrível Almadense?

Foi, mas tem uma história mais antiga. A música escrevi-a há vinte e tal anos na fase de Paris, de rua, de metro. A letra era em inglês, inventada à chuva entre o Petit Palais e o Odeon. Escrevi-a quando cheguei ao hotel. Chamava-se "Ballad of a stranger" (depois, já escrevi "Balada dum estranho", que não tem nada a ver). É evidente que a letra em português não podia ser uma tradução, mas mantém o mesmo espírito.

A canção do disco é a mesma da peça ou teve alterações?

Teve uma pequena alteração. Onde estava "Dom Quixote foi-se embora/ com o amigo que nunca existiu" ficou "com o amigo que a tudo assistiu". Porque o Sancho de facto existiu e também se foi embora. Acabou a história, mas é um final menos infeliz.

Mais infeliz é a constatação de "Gosto de brincar com o fogo": "Neste mundo em chamas/ neste planeta a arder/ Neste inferno na terra/ temos tudo a perder." É uma canção que parece brincar com as coisas, mas no refrão acentua o seu lado mais dramático.

Nessa parte acentua, de facto. No resto brinca. Ao escrevê-la, e é a primeira vez que estou a falar disto, estava no meu subconsciente a maneira com o Rui Reininho aborda as pernas das freiras, coisas assim... Quanto a brincar, estou a lembrar-me, por exemplo, do Oscar Wilde. Mas depois há coisas com que não se brinca. Uma pessoa pode até ser incómoda, inconveniente, cínica, pode ser hipócrita inclusive, mas há um limite, o da condição humana, que impede de brincar com as coisas mais terríveis.

"Valsa dum homem carente" foi a primeira letra do Carlos Tê para este disco?

A primeira nem foi essa, foi "Demónios interiores". Ele disse-me: "há duas letras que eu quero que leias porque acho que cabem muito bem." Nem sequer sabia ainda que ia gravar para o norte, deu-mas porque achou que tinham a ver comigo. A segunda chamava-se "Jardim das delícias", mas não encaixava tão bem.

Quer dizer que a "Valsa" surgiu depois, em substituição dessa?

O Tê mostrou-ma já depois de eu ter musicado "Demónios interiores", de que gostei logo até porque tem um final porreiro, os diabinhos a prometerem voltar. Musiquei-a à noite no hotel, arranjei um ritmo que encaixava, toda a primeira parte ficou falada como a debitei. A "Valsa", quando o Tê ma mostrou, meti-a dentro do "dossier" para ver mais tarde. Num bocadinho em que estava sem fazer nada, peguei nela, fui até ao piano e saiu logo. É a coisa mais simples do mundo, já lá estava a valsa. Disse ao Mário: grava já!

"Outono (Estratégia da cigarra)" é mais próxima do jazz. Influência de Chet Baker?

É a minha balada de estimação. Com o Bica, o Möbus...

Na primeira das faixas escondidas, os Dixie Gang retomam "Dom Quixote"...

Foi a maneira como eles acabaram a canção. Só que, se deixássemos tudo junto, a canção ficava com 7 minutos. Assim fizemos um "fade out" e depois retomámos, para apanhar aquelas gargalhadas no fim, aquele clima de festa.

E a décima-quinta, a "Partitura humana"?

Foi um tema que escrevi para exame final de Técnicas de Composição, em 1990, no Conservatório, e que na altura gravei no meu sintetizador. Como saiu dodecafonismo, compus essa peça com as regras do Schönberg. O júri era o Jorge Peixinho, a Maria de Lurdes Martins e o Paulo Brandão. A classificação foi 18 ou 19. Mas depois deitei tudo a perder com a análise, já na oral, da "Missa" do Stravinski. Queriam que eu dissesse "cantochão", mas como nunca mais me saía com a palavra, desceram-me para 15.

O que se ouve no disco é, então, essa peça inteira, na formação original?

Como escolhi na altura do exame a formação do Messiaen do "Quarteto para o fim do tempo", escrevi-a para violino, piano, violoncelo e clarinete. Eu tinha perdido a pauta mas agora que a reencontrei resolvi gravá-la assim, até porque tinha os instrumentos todos no disco. Quis fazer essa experiência, é um trabalho meu, para todos os efeitos.

Concertos com base neste disco? Só em 2005?

Agora ando a fazer as Fnac's, mas a solo. O concerto de lançamento com banda vai ser no Olga Cadaval [em Sintra] no dia 25 de Fevereiro. Com o disco todo, as 13 canções.

Esse número 13, que alguns associam ao azar, prefere vê-lo como sinal de sorte?

Gosto de números ímpares. Normalmente os meus discos têm 11, 13 canções. Mas não sou supersticioso. 2005 vai ser o ano de mostrar este meu "Norte" de norte a sul.


:: Entrevista de Nuno Pacheco - Público, 26/11/2004




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quinta-feira, novembro 25, 2004


Norte


Sabem, acho que este é um dos melhores álbuns do Palma. Mas tb cada vez que sai um novo digo a mesma coisa... :-)

Este álbum é daqueles que cresce, que como uma trepadeira toma conta de nós. Identifico-me cada vez mais com as letras, com os acordes e até, para meu espanto, com os devaneios jazísticos das "faixas escondidas com o rabo de fora". É brilhante.

Acho que cada vez mais o Mestre se afirma como um artista de todos os tempos e de todas as gerações. Os temas são mais sentimentos e estados de espírito do que letras de músicas. O Palma é o amigo ausente, presente nas letras e nos acordes. É o gajo que vai trabalhar para longe mas cuja ausência fica a moer cá dentro, sempre à espera de um regresso. É o maior. Simplesmente o maior!


publicado por: Jacinto

e-mail: jacinto_costa@hotmail.com



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Trabalho de musicólogo


Olá! Não posso deixar de dizer o quanto admiro este site e o quão útil nos foi. Eu em conjunto com uma colega minha, a Isa Peixinho, finalistas do curso de Musicologia optámos por fazer o nosso projecto final sobre o Jorge Palma, no âmbito da disciplina de Etnomusicologia: Pesquisa de Campo. O Resultado foi a leitura de muitas páginas de teoria, ir a vários concertos, conhecer a fundo a discografia do Jorge, contactar com a sua parte musical e entrevistas e encontros pessoais com o Jorge Palma. Tudo isto resultou num trabalho "livro", que foi concluído em Agosto, e que neste momento está a ser revisto por mim para corrigir algumas gralhas e melhorar alguns aspectos. Esperamos tê-lo disponível para breve para quem quiser o poder consultar, e ter contacto com um estudo mais sério e de âmbito musicológico sobre o nosso Jorge o que certamente poderá ter o seu interesse. Qualquer dúvida ou sugestão não hesitem em mailar-me!!

Ah, resta dizer que o trabalho foi aprovado com boa nota, e que tanto eu como a Isa concluímos o nosso curso :)


publicado por: Tiago Videira

e-mail:tmgv@hotmail.com



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quarta-feira, novembro 24, 2004


Excelente ideia


Em primeiro lugar, quero dar os meus sinceros parabéns ao Rui e ao Tiago. Pela excelente página. Pelo Blogue. Pela dedicação. Pelo esforço. Eu que já cheguei a pensar ser o fã número 1 de Jorge Palma, até me sinto envergonhado ao ver o vosso enorme trabalho.

Em segundo lugar, desejar que este espaço seja um sucesso. Espero encontrar aqui um espaço de entronização. Dinâmico. Interessante. Actualizado.

Em terceiro lugar, aproveito a oportunidade para fazer publicidade ao meu blogue: www.coisasbreves.blogspot.com Penso que não perderão nada em dar uma vista de olhos.

Em último lugar, reafirmar, que o Jorge é o maior músico, autor, compositor português.

Saudações palmaníacas,

João Narciso


publicado por: João Narciso

e-mail:joaonarciso@hotmail.com



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terça-feira, novembro 23, 2004


Jorge Palma in Visão


É ao som da primeira música do Norte que vos transcrevo as palavras escritas na Visão. O díficil agora é não encontrar qualquer tipo de entrevista, pequeno comentário ou apontamento nas revistas e jornais. O Jorge voltou às lides musicais com um novo trabalho, e sim... tem sido razão de notícia.

A Visão não foi excepção e ofereceu na sua última edição uma entrevista de 3 páginas. Aqui deixo excertos de algumas respostas do Palma, tentanto não repetir o já mostrado em anteriores posts.

Qual o "norte" do título do novo disco?

Palma _ O Norte começou por ser um título provisório. E os vários sentidos, depois, foram surgindo... Parecia lógico, porque eu fui gravar para o Norte do País, com gente do Norte e tinha acabado de sair o North do Elvis Costello. Começou tudo tipo brincadeira, com um título provisório. Mas depois fui gostando cada vez mais, e começou a fazer cada vez mais sentido para mim... Uma atracção mítica do Norte (que eu captei, por exemplo, através do Glenn Gould que acabou por se encontrar a si próprio no norte do Canadá), o Norte escadinavo (vivi algum tempo na Dinamarca e visitei esses lugares várias vezes), há ainda a expressão "encontrar o norte"...

As canções que aqui estão são, simplesmente, o resultado do trabalho desde o último disco de originais ( Jorge Palma, de 2001)?

Palma _ Não é bem assim. A minha ideia, agora, é trabalhar mais regularmente, isso é verdade. Mas não foi isso que aconteceu... Em Novembro de 2003, o Alex [ Rádio Macau e projecto Wordsong ], a propósito do Wordsong dedicado ao Al Berto, perguntou-me. " É agora que vais musicar o Acordar Tarde?". E eu disse, "Ok, fixe, vou". Andava com um certo medo de musicar aquilo porque tem uma métrica extremamente irregular; mas, no fundo, não custou nada e gostei do resultado final. No fim do ano tinha a música feita. Depois, em Janeiro, escrevi o Dom Quixote Foi-se Embora para uma peça de teatro. Nessa altura era preciso decidir se este ano gravava um disco novo ou não. A editora perguntou-me. E eu respondi "Eh pá, porreiro, estou em forma, sim senhor, vamos a isso!"Então e canções? Canções agora faço, arranjam-se...

Diz também ter um pouco a necessidade de trabalhar apenas quando tem a "cenoura à frente do nariz". Aponta a única altura de excepção a que tocava na rua, a "fase do Metro". Na qual escrevia músicas todos os dias, juntava umas 20 e queria gravá-las.

Este foi o ano das novas canções. Afirma que foi uma questão de começar a trabalhar. "Em Abril tinha duas canções (...) O estúdio estava marcado para Agosto mas não me preocupei muito... De repente a máquina estava a funcionar (...)"

Continua a ter uma imagem de pessoa imprevisível, de jovem rebelde. Mas não olha já, para si próprio, como um velho trovador?

Palma _ Tenho 54 aninhos, não é? Sou um rebelde na medida em que não engulo sapos por dá-cá-aquela-palha. Há fretes que um gajo tem que fazer, claro. Mas considero-me irreverente, digo o que tenho a dizer. Aliás, lutei a vida toda pela minha liberdade e independência, tenho vivdo muito, tenho muita matéria cá dentro. Isso dá-me vivências, situações, vocabulário, um grande à-vontade a escrever; e uma confiança, mesmo em termos musicais. A verdade é que me sinto bem. Sei como isto funciona.

E para quem vive de escrever canções o mundo está inspirador? E Portugal?

Palma _ Portugal está inspirador para escrever uma ópera bufa... Isto está tristemente cómico. Eu estou espantado... Com a impunidade e com a lata de tanta gente ao mesmo tempo. O à-vontade com que as pessoas se descartam das responsabilidades, e a ligeireza com que se admite que haja tanta gente a viver tão mal. Grande parte do que estou a dizer, infelizmente pode alargar-se ao mundo inteiro. Se eu estivesse a escrever para uma revista à antiga portuguesa, tinha muito material mas para canções, isto nem sequer é muito inspirador. é um bocado deprimente, baixo e medíocre.

Afirma ainda que durante o 25 de Abril e, antes dos anos 60 a sua geração viveu uma imensa esperança. E agora apenas resta um pasmo geral instalado. No entanto sente que as pessoas que vão aos seus concertos, aqueles que vão lá mesmo para o ouvir, parecem válidas e isso dá-lhe um imenso gozo.

Diz tambem ser detentor do tal discurso "optimista céptico" falado no disco. Expressão pronunciada pela primeira vez por José Saramago na televisão e que ele reteu.

as novas músicas...

Nestas novas canções há pelo menos, uma frase muito literal sobre a ordem mundias: "A hipocrisia do império faz-me vomitar.". É o "Império americano", certo?

Palma _Sim, é o império americano... Sempre achei que o Bush ia ganhar estas eleições. Porque o Bush corresponde aos interesses dos verdadeiros governantes do mundo que são os gajos do taco, aqueles de quem não conhecemos a cara. Depois há os parentes podres do império, que fazem ainda mais pena. E Portugal é um parente pobre.

Não coloca de parte participar em e com intervenções sem ser como escritor e intérprete de canções. Diz ter as ferramentas.

Novos conhecimentos também não são postos de parte. "Vou para o Hot Clube aprender a tocar jazz - em piano, claro. Se eu tenho tempo e há aí gajos que me podem ensinar... É uma questão de ir abrindo janelas e fazendo experiências. Enquanto não me der o badagaio, posso fazer o que quiser. Tudo é possível."

Fala-se dos tempos de "copofonia", das mudanças que surgiram após o largar do copo, das novas formas de inpiração, dos pánicos do palco agora sentidos. Mas.. tudo continua na mesma.

As músicas novas. Elas estão aí, para nós.

entrevista por : Pedro Dias de Almeida

in Visão, 18 Novembro 2004


publicado por: Vera Mar-melo

e-mail: violentamente@gmail.com



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Jorge Palma no 'Jornal de Notícias'


Público dá-me segurança e garante a sobrevivência

Jorge Palma lançou "Norte", novo disco de originais composto no Porto Em conversa com o JN, cantor e compositor confessa-se "mais sóbrio e tranquilo" Popularidade em redor do artista continua a aumentar

Ei-lo de regresso. Apenas três anos e meio após o lançamento do seu álbum homónimo, Jorge Palma surge com um novo disco de originais. Intitula-se "Norte" e, realmente, foi quase todo concebido a Norte - no Porto e em Gaia.

O regresso é algo inesperado - não nos olvidemos que Palma esteve sem gravar originais durante mais de 12 anos antes do álbum anterior. Mas Jorge, sentado no sofá da sala da sua casa no centro de Lisboa, desmente que tenha sofrido pressões da editora "Às vezes perguntavam-me se já podiam ouvir alguma coisa nova e eu dizia para terem calma".

O novo trabalho "foi feito com muito rigor e nada foi deixado ao acaso". Contou com a preciosa colaboração de um leque de músicos e nele se ouvem canções escritas ao volante do automóvel, auto-estrada acima - rumo, claro, ao Norte "Um gajo quando está na auto-estrada vai concentrado. Deu-me para escrever orquestrações e outras ideias. Às vezes acontecia chegar a Gaia com coisas já praticamente escritas", afirma o condutor que escreve enquanto conduz mas que já não bebe antes, ou depois, de ir para o volante.

Não bebe? Não Jorge Palma largou o álcool. "Mas não quero dar muita importância a isso", murmura. "Agora sinto que ataco as coisas com muito mais vigor", confessa, admitindo que "a presença do álcool fez-se sentir sempre desde os 14 anos, mas isso não quer dizer que eu andasse sempre a cair de bêbado". E acrescenta: "Era só às vezes".

"Eu estava habituado a ter uma certa euforia e a preocupar-me menos com as coisas", prossegue, enquanto assevera que "foram muitos anos com essa bengala do copo de whisky e as cervejas". E, assim, Jorge Palma sente-se mais produtivo "O álcool ou outro tipo de aditivos podem estimular a imaginação e abrir as tais portas, mas isso só funciona durante um certo tempo", aponta. "Depois, às tantas, é só um vício e acabas por já deixar de ter acesso a um estímulo - torna-se um hábito, uma prisão e empata um bocado os movimentos".

Hoje o seu estilo de vida é "mais caseiro". Diz ele "Já não tenho o gozo de estar horas seguidas num bar ou numa discoteca. Estou lá um bocado, porreiro, estou com os meus amigos, mas passado um bocado venho para casa ler ou ouvir música para no dia seguinte estar fresquinho".

Jorge Palma nunca vendeu tanto como agora. O seu leque de admiradores disparou em todas as direcções sociais e não cessa de crescer. Ele tem consciência disso. E, claro, sente-se feliz "Ainda hoje, ali no café, um gajo que não tinha mais de 22 anos chegou ao pé de mim e disse: 'Posso cumprimenta-lo? Gosto muito do seu trabalho'. Isso acontece todos os dias".

Apesar de se considerar "um gajo que faz a sua vida independente, sem se preocupar muito com as opiniões dos outros", Palma, tem noção de que "houve muita gente que foi tomando consciência de que eu não era apenas aquele cromo com a guitarra às costas a tocar no metro". Não obstante admitir que já fez "muita merda em palco", o autor de "Só", orgulha-se dos casos de professores que utilizam as suas canções nas aulas, prova cabal de "um reconhecimento muito porreiro" e um sintoma de que "viram que não foi só andar aí a beber copos e a mandar bocas sou um gajo que pensa e que diz aquilo que pensa". "A minha grande segurança em termos de sobrevivência é o público", afirma, antes de rematar: "O que me interessa é fazer o que gosto, pá".

Antes ao piano do que na guitarra

Sejamos realistas "Norte" é um disco que vale bem o seu preço mas não é o melhor trabalho que gravou até hoje. É um bom disco. Não chega a ser excelente como alguns anteriores. "Se alguém cria expectativas exageradas, pá, o problema não é meu: eu não tenho o compromisso de ser o maior ou de fazer só coisas muito boas", afirma o músico, quando questionado sobre se terá, ou não, medo de decepcionar. Mas "Norte" tem pérolas preciosas: a faixa "Os demitidos", por exemplo, é provavelmente uma das melhores canções de toda a sua discografia. A letra é letal. "Pura e dura", assume Palma, ao mesmo tempo que diz ter bebido inspiração à célebre afirmação de Humberto Delgado ("Obviamente demito-o"): "Há uma série de mentalidades que deviam ser demitidas: gente que está agarrada ao tacho". "Acordar tarde", canção com poema de Al Berto, também merece elogios: "Não privamos muito mas havia uma cumplicidade implícita entre nós", recorda, referindo-se ao falecido poeta. Registe-se ainda a magnífica "Valsa de um homem carente", e "Passeio dos Prodígios", provando que Palma ganha um encanto maior quando envereda por registos baixos, apenas com piano e voz.
C.P.

:: Entrevista e artigo de Cristiano Pereira (Jornal de Notícias, 23/11/2004)
:: fotografia: César Santos



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quinta-feira, novembro 11, 2004


Norte




1. Passeio dos Prodígios
2. Optimista Céptico
3. Escuridão (Vai por mim)
4. Os Demitidos
5. Norte (o meu)
6. Tama-ra
7. Há tanto Tempo (Espero por Ti)
8. D. Quixote foi-se Embora
9. Gosto de Brincar com o Fogo
10. Acordar Tarde [poema de Al Berto]
11. Valsa dum Homem Carente
12. Outono (Estratégia da Cigarra)
13. Demónios Interiores

Faixas escondidas com o rabo de fora:

14. Good Old Dixie's Back [instrumental]
15. Partitura Humana [instrumental]



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segunda-feira, novembro 08, 2004


'Norte' a 22 de Novembro


Jorge Palma já terminou as gravações de "Norte", o seu novo disco de originais que deverá chegar às lojas no dia 22.

O trabalho, que tem 13 canções e mais duas "faixas escondidas com o rabo de fora" (segundo palavras do próprio), conta com uma letra de Carlos Tê e um poema de Al Berto - "Acordar Tarde", retirado de "Horto de Incêndio".

O JN já ouviu o disco. Um dos pontos altos reside na faixa "Os Demitidos", provavelmente umas das canções mais fortes da sua carreira. A letra, temperada de farpas, críticas e reprimendas sustem-se numa base de piano e belíssimos arranjos de sopros.

O resto do disco oscila entre canções ao piano ("Passeio dos Prodígios", ou a desarmante "Valsa de um homem carente", palavras de Carlos Tê) que remetem para os ambientes de "Só", e temas nos quais já se descortina uma gradiloquência instrumental.

"Norte" é o segundo disco de originais que Jorge Palma lança nos últimos 15 anos. E contou com um vasto leque de músicos convidados. A saber: o contrabaixista de jazz Carlos Bica e o guitarrista alemão que habitualmente o acompanha, Frank Möbus , bem como o baixista Miguel Barros e o baterista André Holanda (ambos dos Zen), Miguel Ferreira (teclista dos Clã), Mário Delgado, Marco Nunes (dos Blind Zero), Flak, Ricardo Dias (acordeonista da Brigada Victor Jara), a formação de jazz Dixie Gang e ainda um colectivo de músicos de cordas e sopros oriundos da Escola de Jazz do Porto.

Mário Barreiros assina a produção. Na capa vê-se uma foto de uma piano azul no meio de uma avenida nocturna.

Cristiano Pereira - Jornal de Noticias - 07.11.2004



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