O BLOGUE OFICIAL DA PÁGINA MARGINAL (HTTP://JORGEPALMA.WEB.PT/)


terça-feira, novembro 23, 2004


Jorge Palma in Visão


É ao som da primeira música do Norte que vos transcrevo as palavras escritas na Visão. O díficil agora é não encontrar qualquer tipo de entrevista, pequeno comentário ou apontamento nas revistas e jornais. O Jorge voltou às lides musicais com um novo trabalho, e sim... tem sido razão de notícia.

A Visão não foi excepção e ofereceu na sua última edição uma entrevista de 3 páginas. Aqui deixo excertos de algumas respostas do Palma, tentanto não repetir o já mostrado em anteriores posts.

Qual o "norte" do título do novo disco?

Palma _ O Norte começou por ser um título provisório. E os vários sentidos, depois, foram surgindo... Parecia lógico, porque eu fui gravar para o Norte do País, com gente do Norte e tinha acabado de sair o North do Elvis Costello. Começou tudo tipo brincadeira, com um título provisório. Mas depois fui gostando cada vez mais, e começou a fazer cada vez mais sentido para mim... Uma atracção mítica do Norte (que eu captei, por exemplo, através do Glenn Gould que acabou por se encontrar a si próprio no norte do Canadá), o Norte escadinavo (vivi algum tempo na Dinamarca e visitei esses lugares várias vezes), há ainda a expressão "encontrar o norte"...

As canções que aqui estão são, simplesmente, o resultado do trabalho desde o último disco de originais ( Jorge Palma, de 2001)?

Palma _ Não é bem assim. A minha ideia, agora, é trabalhar mais regularmente, isso é verdade. Mas não foi isso que aconteceu... Em Novembro de 2003, o Alex [ Rádio Macau e projecto Wordsong ], a propósito do Wordsong dedicado ao Al Berto, perguntou-me. " É agora que vais musicar o Acordar Tarde?". E eu disse, "Ok, fixe, vou". Andava com um certo medo de musicar aquilo porque tem uma métrica extremamente irregular; mas, no fundo, não custou nada e gostei do resultado final. No fim do ano tinha a música feita. Depois, em Janeiro, escrevi o Dom Quixote Foi-se Embora para uma peça de teatro. Nessa altura era preciso decidir se este ano gravava um disco novo ou não. A editora perguntou-me. E eu respondi "Eh pá, porreiro, estou em forma, sim senhor, vamos a isso!"Então e canções? Canções agora faço, arranjam-se...

Diz também ter um pouco a necessidade de trabalhar apenas quando tem a "cenoura à frente do nariz". Aponta a única altura de excepção a que tocava na rua, a "fase do Metro". Na qual escrevia músicas todos os dias, juntava umas 20 e queria gravá-las.

Este foi o ano das novas canções. Afirma que foi uma questão de começar a trabalhar. "Em Abril tinha duas canções (...) O estúdio estava marcado para Agosto mas não me preocupei muito... De repente a máquina estava a funcionar (...)"

Continua a ter uma imagem de pessoa imprevisível, de jovem rebelde. Mas não olha já, para si próprio, como um velho trovador?

Palma _ Tenho 54 aninhos, não é? Sou um rebelde na medida em que não engulo sapos por dá-cá-aquela-palha. Há fretes que um gajo tem que fazer, claro. Mas considero-me irreverente, digo o que tenho a dizer. Aliás, lutei a vida toda pela minha liberdade e independência, tenho vivdo muito, tenho muita matéria cá dentro. Isso dá-me vivências, situações, vocabulário, um grande à-vontade a escrever; e uma confiança, mesmo em termos musicais. A verdade é que me sinto bem. Sei como isto funciona.

E para quem vive de escrever canções o mundo está inspirador? E Portugal?

Palma _ Portugal está inspirador para escrever uma ópera bufa... Isto está tristemente cómico. Eu estou espantado... Com a impunidade e com a lata de tanta gente ao mesmo tempo. O à-vontade com que as pessoas se descartam das responsabilidades, e a ligeireza com que se admite que haja tanta gente a viver tão mal. Grande parte do que estou a dizer, infelizmente pode alargar-se ao mundo inteiro. Se eu estivesse a escrever para uma revista à antiga portuguesa, tinha muito material mas para canções, isto nem sequer é muito inspirador. é um bocado deprimente, baixo e medíocre.

Afirma ainda que durante o 25 de Abril e, antes dos anos 60 a sua geração viveu uma imensa esperança. E agora apenas resta um pasmo geral instalado. No entanto sente que as pessoas que vão aos seus concertos, aqueles que vão lá mesmo para o ouvir, parecem válidas e isso dá-lhe um imenso gozo.

Diz tambem ser detentor do tal discurso "optimista céptico" falado no disco. Expressão pronunciada pela primeira vez por José Saramago na televisão e que ele reteu.

as novas músicas...

Nestas novas canções há pelo menos, uma frase muito literal sobre a ordem mundias: "A hipocrisia do império faz-me vomitar.". É o "Império americano", certo?

Palma _Sim, é o império americano... Sempre achei que o Bush ia ganhar estas eleições. Porque o Bush corresponde aos interesses dos verdadeiros governantes do mundo que são os gajos do taco, aqueles de quem não conhecemos a cara. Depois há os parentes podres do império, que fazem ainda mais pena. E Portugal é um parente pobre.

Não coloca de parte participar em e com intervenções sem ser como escritor e intérprete de canções. Diz ter as ferramentas.

Novos conhecimentos também não são postos de parte. "Vou para o Hot Clube aprender a tocar jazz - em piano, claro. Se eu tenho tempo e há aí gajos que me podem ensinar... É uma questão de ir abrindo janelas e fazendo experiências. Enquanto não me der o badagaio, posso fazer o que quiser. Tudo é possível."

Fala-se dos tempos de "copofonia", das mudanças que surgiram após o largar do copo, das novas formas de inpiração, dos pánicos do palco agora sentidos. Mas.. tudo continua na mesma.

As músicas novas. Elas estão aí, para nós.

entrevista por : Pedro Dias de Almeida

in Visão, 18 Novembro 2004


publicado por: Vera Mar-melo

e-mail: violentamente@gmail.com




0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home